Dez e meia da noite larguei o livro e olhei o celular. Caralho, exclamei, a nega não veio me buscar!
Atabalhoado levantei-me, vesti minhas roupas e saí. Pegar um metrô e dois trens para a Vila Olímpia não é bolinho não.
Já na rua resolvi ligar para o Diego. Vai que a bicha ainda estivesse em casa... E estava.
Ai Ed, eu não vou mais - disse ele. Mas se você for eu vou, é que todo mundo desistiu e eu não quero ir sozinho.
Subi até a Consolação e chegando na casa dele saímos de scooter. Como ele corre! Já disse um dia que ele é um motogay dos mais cadela louca: até pilota direitinho mas é imprudente até. E eu vendo a hora em que iria bater com o joelho em algum carro ou mesmo me ralar todo no chão.
Em poucos minutos chegamos ao Lov.e e entramos. O DJ tocava "in my arms" na versão do DJ Tocadisco. Encontrei o Batata e a Taryn e pulando abraçamo-nos. Encontrei a nega e a Maura e pulando abraçamo-nos. Ela já me deu o copo e disse que não conseguiu ligar para mim nem por um decreto. É, meu celulixo dá pau às vezes. Já não é a primeira vez que me deixa na mão.
Encontrei também o Cassy Daddy, DJ estreante da noite. Dei-lhe um beijo no rosto e perguntei se ele já havia passado pela cabine de som.
Ainda eram onze e vinte e o coquetel seguiria com bebidas à vontade até meia-noite. Copos apareciam na minha mão, não deixavam nem eu beber o primeiro.
É tudo por minha conta! Pode pedir que eu pago - dizia eu, fanfarroneando.
Acho que nunca fiquei tão bêbedo em tão pouco espaço de tempo: com um copo em cada mão eu sorvia avidamente o líquido de um para ficar com apenas um copo na mão e não parecer aquele tipo de gente pobre que se excede quando vê distribuição gratuita.
Pouco depois da meia-noite o Cassiano começou a tocar e eu fui com o povo lá pra frente da pista. Ele iniciou com "Future is pussy" do Neonman e eu fiquei feliz e orgulhoso uma vez que eu que apresentei o som ao rapaz.
O set teve algumas sambadinhas e uma parada devido a um pau no som. Não é uma crítica pois eu não faria melhor. Quando a Fernanda comentou o fato com comiseração pelo pobre marido eu lembrei que o que realmente importava era ver todo mundo dançando bastante como acontecia naquele final de set dele.
Depois entrou uma gordinha mandando muito bem. A nega não parava de me enfiar tequila frozen goela abaixo. Ela e a Maura já estavam doidonas e da última vez em que as vi, estavam as duas vomitando, cada uma num canto.
A certa hora da noite não vi mais ninguém conhecido na pista e decidi ir embora.
Eu pensava em pegar um táxi. Mas pra lá da Faria Lima, onde seria mais fácil aparecer um. Decidi entrar na loja de conveniência da avenida Juscelino Kubitschek para matar a fome.
Pedi um kibe e estava pagando ao caixa mal-humorado que respondeu ao agradecimento e soltou um "viado" baixinho, entre dentes.
O quê? - perguntei bravo e arqueando uma sobrancelha. O pústula não teve coragem de me encarar de novo.
Odeio gente com síndrome de Tourette e queria ver aquele pelintra me insultar na cara, o que não aconteceu.
Continuei meu caminho em direção à Brigadeiro Luis Antônio. Eu não estava cambaleante, mas notei que minha cara não estava nada boa quando um casal desviou-se ostensivamente do meu caminho.
E fui subindo na direção da avenida Paulista. Foram bem uns três táxis que não pararam ao meu tímido sinal. Nesse ponto do caminho decidi ir até a minha casa a pé. Nesse mesmo ponto do caminho o suor escorria-me em bagas e eu tirei a camiseta.
Logo que comecei a descer a rua Augusta um carro passou por mim e alguém falou com a cara pra fora: "viado!".
De novo?! Ok, minha calça apertada dá uma aparência meio Iggy Pop, mas nem por isso qualquer lixo vai ficar me insultando à toa.
Virei-me, apalpei forte o meu pau e abriram-se as cortinas para o seguinte diálogo gritado em altos brados:
- Ó o viado aqui, seu puto! - Vai, seu puto! - Quebro a cara de vocês, seus filhos da puta! - Vai se foder! - Volta aí, seus bostas! Cês são tudo cuzão!
O carro, que estava seguindo lentamente, acelerou ao sinal verde. Parei de gritar no meio da Augusta, continuei meu caminho e vesti novamente minha camiseta. As escassas três pessoas que viram a cena devem ter me achado realmente louco. Ou bicha. Ou bicha louca. Mas ali não existe ser normal mesmo.
Passei pelo Charm e pelo Ibotirama onde os últimos notívagos animados bebiam suas últimas cervejas naqueles bares. Passando pelo bar do Alemão resolvi parar para comprar um papelote de cocaína. Dessa vez a Tânia Alves me serviu rápido. Descuidada até, pegando o pó diretamente de dentro do caixa.
Após o início da música que eu havia programado na jukebox baiana, saí empinando a latinha de cerveja que acabara de adquirir. Cheguei em casa pouco antes do amanhecer, não consumi o pobre papelote e adormeci preocupado com a lida, que fazia-se próxima. posted by Ed Gardenal at 7:55 PM